Um novo mural de grandes dimensões vai colorir a paisagem da região mais vertical do Centro de Florianópolis. Natureza do Desterro, obra do artista Rodrigo Rizo, começou a ser pintado na quarta-feira à noite na lateral do Hotel Zip, localizado no alto da Rua Felipe Schmidt, nº 554: um paredão de 420 metros quadrados.
A ação é uma iniciativa do Street Art Tour, movimento que começou em 2019 com o propósito de fomentar a cena de arte urbana na Capital. Para este ano, estão previstas uma série de atividades com diferentes artistas e vários estilos de pintura mural, além de tours guiados para a população — em versão virtual e presencial, quando for possível—, projeto de realidade aumentada e novidades no aplicativo.
A pintura Natureza do Desterro estava programada para ser inaugurada no dia do aniversário de Florianópolis, em março deste ano. O início dos decretos de distanciamento social, tão necessários para minimizar a pandemia do novo coronavírus, coincidiu com a data que seria iniciada a pintura e toda a programação do Street Art Tour.
— Depois de 50 dias em casa, veio a liberação de algumas atividades, incluindo a pintura mural. Muita coisa aconteceu desde o início da pandemia, coisas que me fizeram refletir sobre tudo, principalmente sobre meu trabalho e o meu papel como artista nesse processo — afirma Rodrigo Rizo.
O alto da Felipe Schmidt, local escolhido para a ação, dialoga com a proposta conceitual do painel. Será um respiro de cor e uma forma de amenizar o impacto visual do concreto. A previsão é que fique pronto até o começo de julho.
Mural é um convite à reflexão sobre a cidade num mundo pós-pandemia
Rodrigo Rizo é o autor do Cine Negro, mural em homenagem ao poeta Cruz e Sousa inaugurado no ano passado no paredão ao lado do Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa. É também conhecido pelos camaleões pintados em diferentes ruas da Capital. Dessa vez, o artista vai trabalhar com um conceito ligado às suas pesquisas recentes.
A primeira proposta para Natureza do Desterro era uma reflexão crítica sobre a situação ambiental de Florianópolis. Ao longo da quarentena, o artista reavaliou a abordagem e decidiu levar para o projeto uma visão mais leve e inspiradora. Conceitualmente, a obra parte de uma personalidade feminina que representa um espírito ancestral da natureza e emerge da superfície da água, como uma ilha. Está cercada de vida, com ilustrações de espécies da fauna e flora presentes na cidade. A ideia é que as pessoas possam se identificar com a paisagem, que tenham o sentimento de pertencimento e, mais que isso, atentem para a necessidade de preservação do lugar onde vivem.
—Venho utilizando referências realistas de figuras humanas e de animais para compor cenas alegóricas que evocam um significado mais profundo e menos literal. Creio que, dessa forma, as pessoas irão se conectar com o tema a partir da contemplação, e não por meio do confronto. Busco nessa nova obra renovar as esperanças de um dia voltarmos a viver em um mundo mais conectado e em equilíbrio com a natureza e com todas as formas de vida — diz o artista.
Para ele, a arte é fundamental em todos os processos sociais, principalmente porque a criatividade se alimenta da realidade para então transformá-la e ajudar a digerir o que é indigesto. Com a arte de rua não é diferente:
— É impossível passar inerte a tudo o que está acontecendo. A pandemia por si só já é terrível, traz à tona as mazelas decorrentes de um sistema capitalista estruturalmente racista, injusto e desigual. Diante de tanta instabilidade, surgem preocupações principalmente no que diz respeito ao futuro. Estamos enfrentando um vírus criado pela natureza e ela, a natureza, é muito eficiente em lidar com a influência humana nos ecossistemas. Temos que restabelecer o vínculo que foi partido, nos conectarmos e nos entendermos como parte importante da natureza. É o que proponho nesse novo mural.
Street Art Tour promoverá tour virtual e para o segundo semestre lançará novo app
Em 2020 o Street Art Tour consolida-se como um movimento importante para a arte urbana da Capital e aposta na potência do coletivo, como um convite aos artistas e à própria população a ocupar a cidade e a viver com mais arte. Nesse sentido, este ano estão programados murais de médio porte e também ações que discutam o papel da arte urbana.
A pandemia e o distanciamento social reorganizaram a agenda, mas motivaram atividades de conexão por meio da dimensão virtual. Os roteiros guiados pela arte urbana da Capital, uma parceria com o jornalista Rodrigo Stüpp, do Guia Manezinho, agora terão uma versão on-line em vez das caminhadas em grupo previamente planejadas. Na Live Tour, será possível fazer um passeio com o Guia Manezinho ao vivo. É só conectar nos canais do Street Art Tour. A agenda será divulgada em breve.
— Nosso propósito é fomentar e divulgar arte e artistas. Por isso que mesclamos e direcionamos as nossas atividades com ações propostas pelo projeto, mas também por artistas, por instituições ou por causas sociais que sejam relevantes para sociedade em geral — afirmam os produtores culturais Marina Tavares e Arturo Valle Junior, do Studio de Ideias, idealizadores do movimento ao lado do artista Rodrigo Rizo.
E já que a tecnologia tem sido uma aliada nesse tempo de isolamento, para o segundo semestre o Street Art Tour fará o lançamento da nova versão do aplicativo (disponível para Android e iOS). Com melhorias, atualizações e novas funcionalidades, o app dará a opção a cada usuário criar seu próprio roteiro no mapa, entre outras novidades.
Ainda para o próximo semestre está prevista a segunda etapa da pintura do mural em homenagem a Franklin Cascaes, do artista Thiago Valdi. O painel, localizado no Centro da Capital, terá a implementação de tecnologia de interação e realidade aumentada.
Outra ação promovida pelo SAT e já iniciada em maio é o registro fotográfico e audiovisual das pinturas existentes na parede da passarela para pedestres da Ponte Pedro Ivo Campos. O local passará por reformas e não será possível preservar as manifestações artísticas que lá estão e que fazem parte da história da arte urbana da Capital. Todo este material será catalogado e deverão ser formatados para produtos audiovisuais, digitais ou impressos.
Curiosidades sobre o novo mural
- Para a realização da pintura, o artista utilizará duas plataformas elevatórias instaladas no topo do edifício, cada uma com cinco metros de extensão.
- O esqueleto do desenho primeiro é projetado na parede para que os primeiros traços possam ser desenhados.
- O preenchimento das áreas maiores é feita com tinta acrílica, rolinho e pincel.
- Os detalhes com luzes, sombras e contornos é feito com o spray.
- Rizo terá o apoio de dois artistas como assistentes: Tuane Ferreira e Rodrigo "Pasmo"
- Estão previstas três semanas de trabalho.
- O mural tem 10 metros de largura por 33,5 metros de altura.
O Street Art Tour é patrocinado pelo município de Florianópolis e pela Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura nº 3659/91.