No Brasil, os índices de violência contra a população negra são alarmantes. O racismo no país se reinventa de forma cruel, massacrando crianças, adolescentes, jovens e adultos.
O último Atlas da Violência, publicado em 2020 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostra em números a força devastadora do racismo.
Crianças, homens e mulheres negros são encarcerados, assassinados, privados de direitos e mantidos em condições de pobreza extrema, em um cenário de desigualdades raciais e sociais.
Por isso, a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis (SME), que sempre lutou por uma educação plural, está lançando a campanha "Por uma educação antirracista".
A iniciativa será deflagrada neste domingo, 21 de março, Dia Internacional contra a Discriminação Racial, e se estenderá até dia 26. No Brasil, essa luta se intensificou a partir da Constituição Federal de 1988, que incluiu o crime de racismo como inafiançável e imprescritível.
Modelos são da rede
A campanha é ilustrada por artes com fotografias de estudantes da rede municipal de ensino. Os adultos são do Núcleo EJA Sul I, da Costeira do Pirajubaé , em registros de 2016.
Crianças, com os pais, são da Escola Básica Municipal Osvaldo Galupo , no Morro do Horácio, com cliques datados do ano de 2019. De autoria da professora Janete Elenice Jorge todas as imagens foram feitas para ações pedagógicas contra o racismo.
Um negro tem mais chances de ser morto do que um não negro
Sônia Carvalho, coordenadora do programa de Diversidade Étnico-racial da SME, frisa que o discurso de que "somos todos iguais" e de que o que precisamos é ter "consciência humana" não é mais aceitável diante desta realidade.
"Em quase todos os estados brasileiros, um negro tem mais chances de ser morto do que um não negro", aponta o Atlas da Violência.
"As mulheres negras representaram 68% do total das mulheres assassinadas no Brasil, com uma taxa de mortalidade por 100 mil habitantes de 5,2, quase o dobro quando comparada à das mulheres não negras".
Esses são dados expostos em artes a serem postadas em redes sociais e enviadas para as escolas, núcleos de educação infantil e núcleos de educação de jovens, adultos e idosos (EJA).
Não basta não ser racista
Mensagens expressas por músicos também fazem parte da campanha, como trechos da canção do grupo Fundo de Quintal: "Um sorriso negro/Um abraço negro/Traz felicidade/Negro sem emprego/Fica sem sossego/Negro é a raiz de liberdade", e do artista Criolo: "Eu tenho orgulho da minha cor/Do meu cabelo e do meu nariz/Sou assim e sou feliz/ Índio, caboclo, cafuso, criolo/Sou brasileiro".
A escritora e filósofa Norte-americana Angela Davis desabafa: "Numa sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista".
Nelson Mandela, o maior líder da África negra, ressaltava: "Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião./ As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar".
Um histórico de luta
O programa Étnico-racial da SME fortalece a convivência de diferentes culturas, desenvolve um processo educativo que reconheça as pessoas como cidadãos de direito e assume a diversidade racial na sociedade brasileira.
Para a diretora de educação fundamental, Raquel Valduga Schoninger, a rede municipal de ensino busca criar cada vez mais espaços para vivência e o entendimento do jeito de ser, viver e pensar de todos.
"Devemos compreender também as diferentes contribuições dos povos para a ciência, a tecnologia, a filosofia, a arte", complementa.
A Secretaria de Educação realiza regularmente o Seminário de Diversidade Étnico-racial com a participação de professores de todas as áreas de conhecimento, especialistas em assuntos educacionais, professores de universidades e representantes do movimento negro. Há também formação continuada nessa área.
No histórico frente à luta antirracista, a SME tem trilhado um longo percurso, com diferentes ações.
Em 2007, por exemplo, publicou o livro "Orientações Curriculares para o Desenvolvimento da educação das relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura africana e Afro-brasileira no Ensino Fundamental".
No Plano Municipal de Educação de Florianópolis incluiu o eixo da diversidade étnico-racial e introduziu o tema em todos os documentos e diretrizes da educação infantil e da educação básica da rede municipal.
Com avanço das pesquisas e discussões na temática, elaborou a Matriz Curricular da Educação das Relações Étnico-raciais da Educação Básica do Ensino Fundamental.