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Luís Guilhermy Vieira dos Santos, ou só Guilhermy, como prefere ser chamado, é uma das promessas do jiu-jitsu brasileiro. Com 13 anos de idade e apenas um ano depois de começar a treinar profissionalmente, ele se tornou campeão mundial pela _International Federation Sport of Brazilian Jiu-Jitsu_ (IFSBJJ) em novembro do ano passado, na categoria infantojuvenil A, de 13 a 15 anos.
Estudante do 8º ano da rede municipal de ensino na EBM Dilma Lúcia dos Santos, na Armação do Pântano do Sul, também frequentou o Neim Francisca Idalina Lopes quando mais novo.
Guilhermy vem lutando de um a dois campeonatos por mês, já se preparando para os dois principais torneios deste ano. Além do Mundial da CBJJE em novembro, ele vai participar do Mundial Kids da IBJJF, em setembro, no Rio de Janeiro.
Para isso, a Prefeitura de Florianópolis, por meio da Secretaria Municipal de Educação e da Fundação Municipal de Esportes, irá auxiliar nos custos do jovem na competição.
Além disso, em breve, Guilhermy estará concorrendo a uma vaga para o Bolsa Atleta da FME, em que poderá receber a partir de 600 reais mensais. Como apoio, também, ele passa a ser observado pelo técnico da equipe que representa Florianópolis e poderá participar de uma seletiva para as Olimpíadas Estudantis de Santa Catarina, podendo se tornar parte do time caso tenha um bom desempenho.
O COMEÇO DA JORNADA
Nascido na maternidade Carmela Dutra em 6 de maio de 2009, o morador do Campeche que agora tem 14 anos é filho de Sandra Marta Vieira (48) e Luan Carlos Pereira dos Santos (42), que hoje estão divorciados. A mãe trabalha em uma lavanderia e o pai era chefe de cozinha, mas atualmente trabalha como vigilante, pois segundo ele a remuneração é maior. Guilhermy também tem um irmão mais velho, Jhonn Vieira Lima (26), que na infância praticou judô e hoje é servente de pedreiro.
A caminhada de Guilhermy no mundo das artes marciais começou quando ele tinha 8 anos de idade. Na igreja evangélica que frequenta até hoje havia um projeto que ministrava aulas de jiu-jitsu para as crianças.
"Foi paixão à primeira vista", disse o jovem lutador.
A mãe, Sandra, não gostava muito da ideia do filho se envolver com luta, mas bastou um campeonato para ela entender do que realmente se tratava tudo aquilo, e como o esporte estava deixando Guilhermy feliz.
"E agora ela adora jiu-jitsu. Fica sempre feliz quando vou para os campeonatos. E é o que ela fala pra mim: Primeiro lugar Deus, segundo lugar escola e terceiro lugar jiu-jitsu".
No primeiro campeonato que disputou ainda no projeto da igreja (que não tinha nome específico), ele lutou contra crianças de outras igrejas e acabou ficando em segundo lugar, contra um adversário que já tinha experiência em competições oficiais.
"Estudava de manhã e treinava terça e quinta à tarde na igreja. Era um treino para unir as crianças, não pensando em ser profissional. Mas depois de um mês minha cabeça mudou e eu queria mais".
Foram quatro anos participando de mais competiçõe e desenvolvendo seu talento, até que em 17 de agosto de 2021 (data lembrada com exatidão por Guilhermy) ele foi levado pelo amigo Arthur Lopes da Silva para a Associação Comunitária Morro das Pedras Brazilian Jiu-Jitsu (ACMPBJJ), onde começaria a treinar e competir profissionalmente. Juntos, os dois hoje se preparam para o próximo mundial.
Na associação, Guilhermy conheceu o mestre Leonardo Lachini e começou a treinar na categoria Infanto (13 a 15 anos). Mas o professor percebeu seu talento e logo o colocou para treinar com os adultos também. Os dois já se encontram várias vezes na semana para treinar há quase dois anos, numa relação que transcende os golpes e o tatame.
"Ele não passa só o jiu-jitsu (luta) de fato. Ele passa respeito, como que a gente deve ser na rua, que a gente não pode usar o jiu-jitsu para bater nos outros, só se necessário em caso de defesa. Ele sempre diz que não gosta que usemos isso para a agressividade, e sim que a gente faça jiu-jitsu por amar e por gostar (...) É um professor/pai".
Com o foco maior em competições, a rotina de Guilhermy começa cedo pela manhã e termina tarde da noite na maioria dos dias. Ele acorda por volta das 6h30 para ir à escola e não come muito por lá para não perder o apetite do almoço, que come em casa depois do meio-dia. Às segundas e quartas-feiras, Guilhermy treina à tarde e faz as tarefas depois, mas às terças, quintas e sextas, o treino é à noite, terminando por volta das 22h.
"Eu treino duas horas por dia. Em semana de campeonato, a carga se mantém, mas fica mais puxado (...) Geralmente chego em casa às 23h e durmo meia-noite, quando a adrenalina baixa".
A dieta não é extremamente restritiva. Guilhermy diz que pode comer o que quiser, mas que tem consciência do tipo de alimentação que o ajudará a se manter preparado e saudável. Além disso, são feitos exames de sangue a cada três meses para checar a sua saúde. Para manter a mente focada e saudável, Guilhermy se apoia nos conselhos de seu mestre e nas palavras de um de seus lutadores favoritos, Ricardo Yoshito, que diz que "80% da luta está na mente". Além disso, a fé é muito importante na vida do jovem, que sempre agradece a Deus pelas suas conquistas e comemora ao final das lutas fazendo o sinal da cruz.
"Sem Deus eu não teria ganhado o mundial".
O MUNDIAL
Foram quase quatro meses de preparação focada no mundial da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJE), que aconteceu em novembro de 2022, em São Paulo. Guilhermy disputou na categoria infantojuvenil A, na faixa cinza, pesadíssimo.
A falta de experiência em competições desse tamanho acabou levando-o ao nervosismo e a falta de confiança em si mesmo. Poderia ter sido um desastre ou até o fim da linha, mas as palavras de motivação do mestre Lachini fizeram a diferença.
"Todo mundo uma hora pensa em desistir, e isso aconteceu antes do mundial. Mas ele falou: "Tu tem talento! Tu nasceu para fazer o jiu-jitsu", e eu não acreditava muito nisso (...) Quando a gente foi para o mundial, tinha outros três atletas junto, eu estava nervoso. Na minha cabeça, eu pensei que eu não tinha capacidade, mas ele falou "Tu tens capacidade pra isso. Vai lá e mostra o teu talento que eu tenho certeza que tu vais se sair bem. Tenho certeza que aquela medalha de ouro é tua".
A partir daí, Guilhermy focou no seu objetivo. Era o momento que ele tanto esperava desde que entrou na associação. Foram três lutas, as três contra brasileiros. A primeira vencida por vantagem e as outras duas por finalização, e lá estava, campeão mundial.
"Quando eu entrei no tatame e ganhei a primeira, meu olho brilhou. Ganhei a segunda, mais ainda. Quando ganhei a terceira, eu fiquei em choque. Mudou todo o meu pensamento e agora não tenho mais dúvidas porque eu sei que nasci para isso e é o meu sonho".
FAMÍLIA, AMIGOS E ESCOLA
A família, principalmente a mãe, sempre foi inestimável para Guilhermy. Os sacrifícios para tornar o sonho do garoto em realidade não foram fáceis.
Para cobrir os gastos com a viagem e a taxa de inscrição do mundial, a mãe Sandra trabalhou dobrado, no seu emprego na lavanderia e também como diarista. O custo de tudo foi em torno de 1000 reais. O esforço da mãe é muito reconhecido por Guilhermy, que deseja recompensá-la por toda a "luta" que ela teve para o filho "lutar".
"Ela sonha em ter uma lavanderia dentro de casa. Em ter um espaço só dela para fazer o que ela ama. Eu quero muito realizar o sonho dela porque ela está me ajudando muito a realizar o meu sonho. Então, quando eu tiver condições de ajudar alguém, a primeira pessoa vai ser ela".
Na escola, amigos e professores o incentivam a lutar. O mais próximo é o diretor Mário Sérgio Figueiredo, que dá conselhos e o ajuda na medida do possível. A professora de inglês, Tatiana dos Santos, também é uma importante parceria. Ela vai ajudar Guilhermy a aprender inglês para disputar o Pan Kids 2024 da IBJJF, nos Estados Unidos.
Os impactos do esporte dentro da sala de aula também são percebidos por ele. Segundo o jovem, ele aprendeu a ter disciplina em na escola e também a ter mais vontade de vencer como estudante. Um dos seus sonhos, por exemplo, é se formar em educação física para poder dar aulas de jiu-jitsu.
"É um plano B caso não dê certo, se eu me machucar e não puder mais praticar".
O maior sonho de Guilhermy dentro do esporte é ser campeão mundial na faixa preta. Fora, ele quer ajudar a família, principalmente a mãe, e criar um projeto social assim como o qual ele faz parte, para ajudar e dar oportunidades a outras crianças.