Após escândalo na compra de "respiradores fantasmas", secretário de saúde pede exoneração em SC

Secretário aparece à direita da foto

Secretário aparece à direita da foto

Após reportagem da Intercept Brasil revelar inúmeras irregularidades no processo de compra de respiradores em Santa Catarina, no valor de R$ 33 milhões, os quais o Estado pagou parte do valor de forma adiantada e sem receber os aparelhos até o momento, o secretário de Estado da Saúde, Helton de Souza Zeferino, pediu exoneração do cargo.

O governo do Estado emitiu nota oficial na noite desta quinta-feira (30), confirmando que o governador Carlos Moisés aceitou o pedido. (Leia mais abaixo a nota oficial)

Segundo a reportagem que provocou a queda do secretário, cada respirador, equipamento essencial durante a pandemia, já que um dos principais sintomas de coronavírus é a falta de ar, saiu por R$ 165 mil – valor bem acima dos R$ 60 mil a R$ 100 mil pagos pela União e por outros estados.

Além do preço causar estranheza, a Itercept apurou ainda que a escolha do fornecedor: a Veigamed, uma empresa da Baixada Fluminense, não tem histórico de vendas desse aparelho e especializada no comércio de produtos hospitalares como gaze e mobília. Em seu site, não há menção a respiradores ou qualquer outro tipo de equipamento elétrico de maior valor.

Entre as denúncias chama a atenção o seguinte trecho "o governo comprou um modelo de respirador acima do preço, mas o vendedor trocou o aparelho sem consultar o poder público; os equipamentos só devem chegar com dois meses de atraso; e só então os técnicos da Secretaria de Saúde vão analisar se o respirador é apropriado para tratar pacientes de covid-19.

Caso não sejam, todo processo de escolha de comprador e equipamento, que começou em março, estará descartado, e o governo terá que entrar em uma batalha para reaver os R$ 33 milhões pagos antecipadamente."

LEIA TAMBÉM: VEJA O VALOR DA MULTA PARA QUEM DEIXAR DE USAR MÁSCARA EM FLORIANÓPOLIS

JUÍZA BLOQUEIA RECURSOS

A Juíza Ana Luísa Schmidt Ramos, em exercício na 1ª Vara da Fazenda Pública da comarca da Capital, deferiu antecipação de tutela em ação popular para suspender qualquer novo pagamento relativo à aquisição de 200 respiradores por parte do governo estadual no valor de R$ 33 milhões, assim como determinou a indisponibilidade de igual montante nas contas da empresa escolhida pelo Executivo - com dispensa de licitação - para fornecer tais equipamentos.

A dispensa de concorrência, na avaliação da magistrada, encontra amparo na situação de calamidade pública declarada pelo governo federal para combater a pandemia de coronavírus.

Os contornos da contratação levada a cabo pela Secretaria Estadual da Saúde, contudo, deixaram mais dúvidas do que certezas na visão da juíza.

Entre outros fatores, a empresa escolhida, que possui sede no interior carioca, apresenta informações conflitantes entre aquelas prestadas no processo e outras que disponibiliza em seu site - inclusive de endereço.

As duas outras concorrentes que foram chamadas a cotar produtos da mesma natureza, ao seu turno, não apresentaram sequer CNPJ e têm o mesmo endereço comercial.

O valor de cada respirador, na ordem de R$ 165 mil, estaria muito acima daquele praticado no mercado, segundo avaliação da magistrada.